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CORRUPÇÃO

Arcebispo nega vingança e diz que corrupção chega ao topo do Vaticano




Chip Somodevilla/Getty Images North America/AFP
Chip Somodevilla/Getty Images North America/AFP - Carlo Maria Viganò (ao centro) estava desaparecido desde que sua carta foi divulgada, afirmando que o papa sabia de abusos cometidos pela igreja nos EUA

Carlo Maria Viganò (ao centro) estava desaparecido desde que sua carta foi divulgada, afirmando que o papa sabia de abusos cometidos pela igreja nos EUA


São Paulo - O arcebispo que desencadeou uma crise dentro da Igreja Católica ao fazer denúncias contra o papa Francisco e defender sua renúncia negou nesta quinta-feira (30) que tenha agido por vingança e disse que sua intenção é mostrar que a corrupção chegou ao topo da hierarquia eclesial.

Carlo Maria Viganò estava desaparecido desde que sua carta de 11 páginas foi divulgada no domingo (26), afirmando que o papa sabia há anos de abusos cometidos pela igreja nos EUA e os acobertou.

Na ocasião, Francisco encerrava uma visita à Irlanda na qual "implorou o perdão do Senhor" pelas agressões sexuais cometidas no país por padres católicos.

O secretário de Estado do Vaticano, cardeal Pietro Parolin, disse nesta quinta que o papa Francisco está "sereno" apesar "da preocupação e da amargura" dentro do Vaticano por causa das acusações que, segundo ele, "criaram grande dor" na igreja.

Relatos de meios de comunicação italianos e americanos afirmaram que Viganò agiu após o papa ter impedido sua ascensão ao posto de cardeal.

"Nunca tive sentimentos de vingança e rancor em todos esses anos", afirmou Viganò segundo o jornalista conservador Aldo Maria Valli, que publicou as declarações em seu blog. Valli ajudou o arcebispo a escrever a carta.

"Eu falei porque a corrupção alcançou os níveis mais altos da hierarquia da igreja", afirmou Viganò.

O arcebispo disse ainda que ele mesmo foi quem desistiu de se tornar cardeal "pelo bem da igreja".

O Vaticano não comentou as novas acusações do arcebispo, que foi núncio (espécie de embaixador da Santa Sé) em Washington.

No voo de volta da Irlanda ao Vaticano, o papa disse que não comentaria a carta de Viganò. "Leiam e tirem suas conclusões", afirmou.

Desde o início de seu papado, Francisco enfureceu os conservadores católicos por defender uma igreja mais receptiva a questões como o aborto, os católicos divorciados ou a homossexualidade.

INFALIBILIDADE
Aqueles que se lembram de ouvir na escola católica ou na igreja sobre a infalibilidade do papa podem estranhar o fato de o arcebispo Carlo Maria Viganò acusar o atual pontífice, Francisco, de saber de abusos sexuais cometidos e acobertados por padres nos Estados Unidos e nada ter feito.

Se o que Viganò diz for verdade, a escolha do papa de não agir é, no mínimo, moralmente repugnante.

O papa errou, então? Como fica a infalibilidade?

A questão é que o dogma da infalibilidade papal não significa que, para os católicos, o papa sempre está certo em todas as suas ações nem que ele nunca erra. Nem, aliás, que o papa não possa cometer pecados.

A infalibilidade deriva da ideia de que a Igreja Católica recebeu um mandato de Jesus Cristo para propagar seus ensinamentos; o papa, como "cabeça" da Igreja, é orientado pelo Espírito Santo e por isso suas declarações sobre questões de fé e moral são infalíveis, ou seja, corretas e irrevogáveis.

Mas isso só se aplica a declarações solenes feitas pelo papa em algumas circunstâncias, geralmente quando ele esclarece uma questão de doutrina da igreja que foi colocada em dúvida, o que é raro. Logo, a infalibilidade não se aplica a toda e qualquer decisão ou declaração do pontífice.

Por fim, o papa Francisco não fez nenhuma declaração nem tomou nenhuma decisão relacionada ao caso que é objeto da acusação de Viganò. Sua falha, se tiver existido, terá sido a de não agir.

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