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MPF: Subornado pela Odebrecht seria coordenador oculto de campanha de Richa


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Roldo foi apontado por diversas vezes como um dos braços-direitos do ex-chefe do executivo do Estado. Foto: Reprodução
A pedido da força-tarefa Lava Jato do Ministério Público Federal no Paraná (MPF) e da Polícia Federal (PF), a Justiça Federal no Paraná expediu e a PF cumpriu na manhã desta terça-feira (11) dois mandados de prisão preventiva, um de prisão temporária, além de diversos mandados de busca e apreensão no Paraná, em São Paulo e na Bahia. O objetivo foi aprofundar as investigações sobre a prática de crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e fraude à licitação referentes à duplicação da PR-323, favorecendo a empresa Odebrecht. A 53ª fase da operação Lava Jato foi nominada Piloto, em alusão ao codinome que seria do ex-governador do Paraná, Beto Richa (PSDB), na planilha de propinas da Odebrecht.
São alvos de prisão nesta fase Deonilson Roldo, ex-chefe de gabinete de Richa; Jorge Theodócio Atherino, empresário apontado como operador financeiro de Richa; e Tiago Correia Adriano Rocha, indicado como braço-direito de Jorge, e responsável por diversas transações financeiras dos empreendimentos do executivo. A operação ocorreu concomitante com uma ação do Ministério Público Estadual (MPE), que teve vários alvos iguais. Procuradores da Lava Jato garantiram que isso se tratou de uma coincidência e que não foi planejado as operações simultâneas. Um dos locais com busca e apreensão foi a casa do ex-chefe do executivo estadual, no bairro Mossunguê, na Capital do Paraná.
Fatos apurados
Conforme apontaram as investigações e a denúncia oferecida na semana passada pelo MPF, empresários do grupo Odebrecht realizaram, no primeiro semestre de 2014, um acerto de subornos com Deonilson Roldo, para que este limitasse a concorrência da licitação para duplicação da PR-323, entre os municípios de Francisco Alves e Maringá. Em contrapartida, a empreiteira pagaria R$ 4 milhões a Roldo e ao seu grupo. A corrupção teria sido ajustada em três reuniões entre Roldo e representantes da empreiteira. As evidências mostraram que, no final de janeiro de 2014, executivos da Odebrecht procuraram o então chefe de gabinete do governador e solicitaram apoio para afastar eventuais concorrentes interessados na licitação da parceria público-privada (PPP) para exploração e duplicação da rodovia.
As provas indicaram ainda que, após uma primeira reunião, Roldo voltou a se encontrar com executivos da empresa, informando que a ajudaria ilegalmente na licitação, mas para isso contava com o auxílio da empresa na campanha do governador daquele ano de 2014. Desta maneira, segundo as evidências, ele solicitou propinas para vender atos praticados no exercício de sua função pública, com o pretexto de que supostamente elas seriam usadas em campanha. Em seguida, em 14 de fevereiro de 2014, Roldo teve uma terceira reunião com os executivos da Odebrecht. Nesse encontro, as provas apontam que o então chefe de gabinete do ex-governador afirmou que tinha procurado as empresas CCR e Viapar, as quais indicaram que não participariam da licitação. Informou, ainda, que o Grupo Bertin tinha interesse na concorrência por intermédio da empresa Contern.
PropinaEm razão do interesse da Contern, em 24 de fevereiro de 2014, Roldo chamou o executivo dessa empresa, Pedro Rache, para uma conversa no Palácio Iguaçu. No encontro, gravado empresário, o ex-chefe de gabinete de Richa informou ao empresário que tinha “compromissos” com a Odebrecht e solicitou ostensivamente que a empresa Contern se afastasse do certame licitatório para obtenção do contrato da PR-323. No mesmo diálogo, Deonilson Roldo, de forma direta, vinculou a desistência da licitação a interesses do Grupo Bertin, que controlava a Contern, na Copel, empresa de energia elétrica do estado do Paraná. Após diversos adiamentos dos prazos de entrega das propostas, finalmente, em 25 de março de 2014, o Consórcio Rota das Fronteiras, composto pela Odebrecht, Tucumann, Gel e America foi o único a fazer proposta na licitação. Sagrou-se, assim, vencedor da concorrência pública. O contrato foi assinado em cinco de setembro de 2014.
Pelo menos R$ 3,5 milhões foram pagos por meio de entregas em espécie, conforme lançamentos registrados no sistema de contabilidade ilícito da Odebrecht. Por meio de uma série de documentos, quebras de sigilo bancário e fiscal, quebra de sigilo telefônico e de outras provas coletadas durante a investigação, identificou-se que os pagamentos foram feitos mediante técnicas de lavagem de dinheiro. Parte dos valores foi depositada, em espécie e de modo fracionado, em contas de Deonilson Roldo e de sua empresa, Start Agência de Notícias. Outra parte dos valores teria sido destinada à realização de depósitos, também em espécie e fracionados, em contas de Jorge Theodocio Atherino, suas empresas e associados.
Coordenador ocultoInterceptações telefônicas demonstraram que Deonilson Roldo está atualmente coordenando de forma oculta a campanha de Beto Richa para o Senado Federal, enquanto Jorge Atherino continua usando suas empresas para movimentação expressiva de valores sem origem identificada. Além disso, constatou-se o emprego de sofisticados métodos de lavagem de dinheiro, envolvendo contas no Brasil e no exterior. Para o juízo da 13ª Vara Federal Criminal, “não se trata de um crime trivial”, envolvendo pelo menos R$ 3,5 milhões em subornos. “O contexto não é de envolvimento ocasional em crimes de corrupção”, mas da prática reiterada de grande corrupção e de “complexas operações de lavagem de dinheiro”, no Brasil e exterior.

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