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Rio Bom - A Rádio Comunitária Rio Bom Fm 87,9, trara uma programação especial na Sexta- Feira Santa

 Radioteatro: A Vida de Nosso Senhor Jesus Cristo (2019)

Veja a História da primeira radiofonização da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo em 1959



"Cristo crucificado entre dois ladrões", pintura de Peter Paul Rubens [Public domain], via Wikimedia Commons.


A primeira transmissão da Vida de Nosso Senhor Jesus Cristo ocorreu no dia 27 de março de 1959, na Sexta-Feira da Paixão, pela Rádio Nacional do Rio de Janeiro. A produção de Giusepe Ghiaroni foi dividido em quatro seqüências: a primeira, a partir das 11 horas e 15 minutos. A segunda, às 12 e trinta. A terceira, às 14 e trinta e a última às 18 horas. Ao início, Dom Hélder Câmara, que já havia abençoado todo o elenco antes das gravações, na ocasião dirigiu uma breve saudação aos ouvintes. 

Foram exatas duas horas e 51 minutos de programação, incluindo, ao final um terço com vozes femininas, sob a supervisão da Arquidiocese do Rio de Janeiro. Jamais houve um empreendimento semelhante no rádio brasileiro. Segundo os arquivos da Nacional, cerca de quatrocentas emissoras de várias regiões do Brasil retransmitiram o programa.

Pela complexidade do trabalho a apresentação de a Vida de Nosso Senhor Jesus Cristo foi previamente gravada. Estavam chegando ao Brasil  os famosos gravadores de fita da marca Ampex. Eram fitas de rolo de excelente resposta com uma qualidade de gravação que condenou ao ostracismo os velhos gravadores de disco de acetato dos anos quarenta. Além do mais, ao contrário do gravadores em disco  acetato de 16 polegadas, as fitas podiam ser regravadas o que baixava extraordinariamente os custos. 

Apesar da novidade, a Nacional  não queria saber dessa historia de “não ficou bom grava de novo”. O programa  era gravado como se fosse ao vivo e ia ao ar como havia rolado. O profissionalismo de todos não admitiria falhas, nem a estrutura “industrial” das novelas veiculadas pela   rádio   aceitaria “gravar e regravar até sair direito”. A exceção foi  feita para a Vida de Nosso Senhor Jesus Cristo em virtude da complexidade do trabalho. Mas mesmo assim foi tudo “gravado direto”, sem interrupções para consertar  o trabalho o que impressionou pelo profissionalismo,  beleza e perfeição.

Bastidores 
Algumas  gravações eram realizadas tarde da noite para aproveitar a ociosidade do estúdio de radioteatro. Mas para a gravação das cenas do julgamento e da crucificação, que exigiam a presença “de um  clamor da multidão”, os radiatores que iam   participando, tinham ordens de Floriano para permanecer no estúdio aguardando.

Dessa maneira, o estúdio, embora  grande, não comportou todo o imenso elenco de “extras”. As portas, então ficavam abertas e do lado de fora, do corredor, as vozes eram projetadas para o interior do ambiente. Criando o clima ideal.

Floriano dirigia o coro de extras que ora urrava, ora gritava, ora se lamentava, conferindo a dramaticidade necessária às cenas diante de  Pilatos,o calvário, a crucificação e a morte de Jesus.

Uma noite, durante a gravação Pilatos deveria perguntar à turba representada pelo coro de extras:
E então o que faço com este homem?
As vozes deveriam responder:
Ele é réu de morte!
Crucificai-o !
Porém, no clímax da história, um gaiato grita e sua voz destaca-se claramente no meio da multidão:
Dá um ponta-pé nele!
Claro, Floriano mandou parar a gravação. Possesso, passou uma reprimenda em todos os extras. E teve que gravar o bloco de novo.

No dia seguinte, ouviu, exaustivamente, a gravação dezenas de vezes, tentando descobrir o dono daquela voz. Em vão. Mas as suspeitas recaíram sobre três jovens radioatores, a saber: Rodney Gomes, Bruno Neto e Carlos Marques.

Participaram das gravações  quase totalidade do elenco da PRE-8, ou seja, cerca de 120 atores.

Cast principal


MARIA: Amélia de Oliveira e Amélia Ferreira
JOSÉ: Hemilcio Froes
JESUS MENINO: Luiz Manoel
JESUS ADULTO: Roberto Faissal
DEUS: Floriano Faissal
HERODES: Mario Lago
JOÃO BATISTA: Celso Guimarães
JOÃO EVANGELISTA: Celso Guimarães
PEDRO: Castro Viana
ANDRÉ: Domingos Martins
FELIPE: Darcy Pedrosa
ANJO: Walter Alves
SATANAZ: Rodolfo Mayer
CAIFAZ: Castro Gonzaga
JUDAS: Domício Costa
CENTURIÃO: Milton Rangel
MÃE DE LÁZARO: Lucia Delor
MARTA: Simone Moraes
ANA: Neusa Tavares
CHEFE DA GUARDA: José Américo
SAMARITANA: Olga Nobre
PILATOS: Saint Clair Lopes
ESPOSA DE PILATOS: Zezé Fonseca
MADALENA: Isis de Oliveira
ANAZ: Alfredo Viviani
SIMÃO SIRINEU: João Fernandes
MALCON: Orlando Mello


Nos demais papéis


Neida Rodrigues - Norma Geraldi - Tina Vita - Haidée Fernandes - Lizete Barros - Terezinha Nascimento - Carmen Lidia - Maria Alice - Alvaro Aguiar - Geraldo Luz - Renato Murce - Bruno Neto - Milton da Mata - Samnir de Montemor - Jerdal dos Santos - Teixeira Filho - Edmundo Maia - Mafra Filho - Mendes Neto - Silva Ferreira - Rodrigo Sales - Rodney Gomes - Cícero Acaiaba - Dinarte Armando - Antonio Laio - Cauê Filho - Carlos Marques - Fernando Maia - Geraldo Avelar - Jonas Garret - José de Arimatéia - Manoel Brandão - Waldir Fiori - Roque da Cunha - Paulo Ferreira - Wolney Camargo - Dantas Ruas - João Ruas - João Zaccharias - Arthur Costa Filho e Navarro de Andrade.


Sonoplastia


Lourival Faissal
Gurgel de Castro
Manoel Coutinho


Contra-regras


Jorge de Oliveira
Isaias Silva
Geraldo Cruz
Jorge de Moreira


Operadores de som


José Marques
Francisco Onofre

Sonoplastia e contra-regra 

Sob a chefia de Lourival Faissal, atuaram em A Vida de Nosso Senhor Jesus Cristo os sonoplastas Gurgel de Castro e  Manoel Coutinho. Já a contraregra, que deu um realismo impressionante às cenas, foi feita por quatro profissionais  de larga experiência: Jorge Moreira, Isaias Silva,  Geraldo Cruz e Jorge de Moreira.

A sonofonia produziu uma trilha musical muito criativa. A narração magistral de César Ladeira tinha como um dos fundos musicais  o sound-track do filme A Canção de Bernardette de Alfred Newman,Oscar  de 1943. O filme, estrelado por  Jennifer Jones, William Eythe,Vincent Price e Lee J. Cobb, contava a história da vida de Santa Bernardette em Lourdes no sudoeste da França. 
Uma trilha muito bonita, carregada de lirismo e muita religiosidade como se pode imaginar, foi utilizada em diversas novelas nos anos seguintes, mas teve  seu aproveitamento mais feliz na Vida de Nosso Senhor Jesus Cristo, pois a temática das aparições de Nossa Senhora à jovem Bernardette em Lourdes, perfeitamente se encaixavam à temática dos  eventos de Cristo junto ao seu povo.

Assim,havia uma seqüência de  acordes musicais extraídos da  trilha e que pontificavam todas as vezes que Jesus Cristo  falava aos  seus seguidores.  A cena em que Jesus é tentado pelo diabo, muito bem vivido por Rodolfo Mayer teve, entre outros, o fundo musical extraído da trilha sonora do filme O Egípcio do mesmo Alfred Newman  que chegara ao Rio em 1953.

Essa trilha é também muito rica e  além do tema de abertura com grande orquestra e coral que serviu de prefixo  ao Grande Teatro, possuiu momentos de agitação, dinamismo, além de  pontos carregados de suavidade, leveza e romantismo. Por isso, muito aproveitada na Vida de Nosso Senhor Jesus Cristo.

O final de O Egípcio consta de uma faixa sob o título de “Exílio e Morte”. Uma linda composição com grande orquestra e coral e que se encaixou perfeitamente ao final da seqüência que  culmina com Jesus  fazendo o “Sermão da Montanha”  .

Vida de Nosso Senhor Jesus Cristo também é pontuada por "Marcellus returns to Capri" da trilha sonora de O Manto Sagrado (The Robe, 1953) do mesmo Alfred Newman. O Manto Sagrado é um filme dirigido por Henry Koster  e conta a trajetória de um tribuno romano que comanda a unidade encarregada da crucificação de Jesus. Distribuído pela 20th Century Fox, foi o primeiro filme produzido pela CinemaScope em widescreen.

Um momento  de alto poder dramático é o da crucificação e morte de Jesus.  Instante em que várias trilhas foram  utilizadas, entre elas a Segunda Sinfonia de Gustav Mahler, Manfred de Tchaicovisky e “Assim falou Zaratustra”. Isso em meio a raios, trovões e ao urro animalesco da turba que  festejava  o martírio  do Cristo e que de súbito entra em pânico ao presenciar os fenômenos meteorológicos  que se sucedem à morte do Jesus  Crucificado.
Ao longo dos anos, a Rádio Nacional do Rio de Janeiro continua a reprisar o programa em  horários diferentes daqueles em que fora lançado originalmente, sempre na  Sexta-feira da Paixão. Mais tarde fundiram-se os blocos e até os anos noventa havia uma transmissão no meio da tarde e outra à noite.

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