Rio Bom - Recordando pessoas inesquecíveis de Rio Bom, recordando memórias
Escrito por Alice Xavier, para se fixar em Rio Bom, relembrar tudo o que é História de Rio Bom.
JOÃO BATATA....UMA FIGURA INESQUECIVEL
Rio Bom sempre será cenário de lindas lembranças porque lá a população é bela, simples e boa.
No ano de 1963, por exemplo, lá chegou uma família para trabalhar na lavoura de café e trouxe consigo um personagem que se tornaria marcante na cidade.
João Ignacio Chavier (O Chavier dele é com ch). Moravam no Bairro do Cruzeiro e naquela década assim como na década de 1970 esses bairros rurais possuíam uma população numerosa. Em cada bairro rural havia vendas e nessas vendas uma televisão que reunia o povo a noite para seguir novelas. Havia também terços nas casas dos vizinhos e o grito do porco que ecoava dizendo que naquele dia cada casa receberia um pedaço daquela carne.
Enfim, Rio Bom tinha como força maior a zona rural. E João, não se sabe o motivo, passou a ser conhecido nessas rezas como João Batata.
João Batata tem inúmeras histórias engraçadas, divertidas e outras até bem tristes.
Quase não ficava doente. Arrumava namoradas por correspondências. Não sabia escrever quase nada, pois não estudou. Porém, possuía uma inteligência quase anormal.
Se não sabia escrever direito, sabia anotar endereços de moças que ouvia pelas rádios e caminhava até Rio Bom em busca de alguém que escrevesse bem e redigisse cartas com conteúdos mentirosos para as moças. Nas cartas dizia ser estudado, bonito, ter terras. De modo que muitas moças respondiam para ele e muitas até foram conhecê-lo. E quando viam o João decepcionavam.
João era de estatura normal, não atraente e falava demais. Gostava de músicas e entendia dessa área muito bem.
Tinha sonhos. Em seus sonhos namorava belas moças. Namorou a Sandy e segundo ele era segredo porque os fãs dela não iriam gostar de saber que ela tinha namorado.
Era um sonhador, nunca casou. Provavelmente nunca namorou. Nessa história de arrumar namoradas por correspondências, certa vez, um rapaz que escreveu as cartas para ele viu a foto de uma das moças. João ao receber a resposta pediu para esse rapaz que lesse para ele. O rapaz vendo que a jovem era bonita anotou o endereço e foi ao encontro da moça.Assim, João tornou-se conhecido em todo o Rio Bom, tanto por falar muito como por fazer repentes que eram muito inteligentes.
Mudou-se para a cidade deixando a zona rural. Perdeu os pais e passou a ser só. Poucas pessoas iam à sua casa. Mas João Batata seguia seu caminho. Parando as pessoas pelas ruas, contando histórias sem fim, soltando salivas de tanto falar.
Depois que se aposentou, João ia várias vezes para Apucarana de circular porque, segundo ele, não pagava. Incrivelmente em muitos lugares que João ia em Apucarana, tanto atrás de instrumentos musicais como cds e coisas do ramo, ele era ouvido pelo pessoal que via nele um conhecedor de músicas.
Sim, João era uma pessoa inteligente, era pura música, era letras, era poesia. No entanto, muitas vezes, as pessoas por ter seus afazeres preferiam fugir dele. A verdade é que ele falava muito e era difícil escapar dele se parasse para ouvi-lo.
A população de Rio Bom diminuiu por conta da geada de 1975 que queimou todo o cafezal levando muitas famílias embora. Hoje a população é bem pequena e João era parte dessa população que ficou.
Quem passasse em frente sua casa ouvia músicas altas. Sabia que João estava em casa. Se tivesse quieto, provavelmente tinha saído. Mas, as tardezinhas as músicas lembravam que ele estava em casa.
Não se sabe ao certo se João tinha alguma deficiência que remédios pudesse melhorar. Não se sabe se alguém da família o levou para um tratamento. João era teimoso e pode ser que ele próprio não desejava isso.
Passou a vida fazendo muitas pessoas rirem, fazendo seus repentes inteligentes, ouvindo músicas e aprendendo a lidar com tecnologia. E, claro, falando muito.
Dias se passaram e João sumiu. Quando foram até a casa dele, João estava morto. Lá se foi João Batata com todo seu repertório de músicas, poesias, repentes, ilusões. Lá se foi João que sonhou com o amor e nunca foi amado. Lá se foi João Batata deixando Rio Bom mais pobre de figuras únicas, diferentes e carentes de atenção.
Se alguém souber histórias do João conte....pois João era um alegre musical exteriormente e interiormente só Deus sabe o que pensava, o que sentia. Talvez, João fosse só solidão.
Alice Xavier
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